Os períodos concentrados e os MAPPs: uma oportunidade perdida para o IST se modernizar

MTP opinião

Os períodos concentrados e os MAPPs: uma oportunidade perdida para o IST se modernizar

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Relator pelo MTP : Prof. Pedro Bicudo, IST, 27 de Fevereiro de 2024

Sumário: Nesta breve nota, pretendemos comparar o Novo Modelo de Ensino [1] implementado pelo IST com as práticas internacionais de ensino superior. Complementamos a nota do MTP, com o relator Prof. Orlando Pereira, de 17 de outubro de 2023 [2]. Mostraremos que o IST implementou, à custa do grande esforço dos seus professores, um modelo jamais testado no mundo, correndo um grande risco de insucesso. Trata-se de uma oportunidade perdida para modernizar o IST e melhorar o seu ranking.

Fig. 1: Inovar é muito diferente de não ter medo de errar, para inovarmos devemos estudar muito bem o estado da arte e testarmos as nossas opções com muito rigor.

1) Os semestres e trimestres no ensino universitário de diferentes países.


Comecemos por estudar o estado da arte nos USA e no UK, que têm a maioria das universidades de topo mundiais. Nos USA 95% das universidades têm os cursos divididos em semestres [3], tal como acontecia no IST antes do Novo Modelo de Ensino (NME) [1] também denominado MEPP, proposto pela CAMEPP, e implementado segundo o PERCIST. As restantes 5% dividem os cursos em trimestres, seguindo o modelo utilizado maioritariamente pelo UK [4]. No UK, os trimestres são denominados “terms” e nos USA são denominados “quarters”. Na UE, tal como nos USA, a maioria dos cursos são semestrais [5].

Estes dois modelos são muito mais semelhantes entre si do que com o NME do IST. Nenhum tem disciplinas muito concentradas como no NME. Os semestres têm disciplinas de 15 ECTS e os trimestres têm disciplinas de 10 ECTS. Em ambos os casos há cerca de 5 disciplinas em paralelo, pelo que a concentração de disciplinas é a mesma.

Os quatro casos referidos no CAMEPP como semelhantes ao NME, no Norte da Europa e em Singapura [6], são os que têm 4 períodos, alguns deles com disciplinas muito concentradas como as do NME.


Ou seja o IST adotou um modelo raro, com uma taxa de implementação muito baixa a nível mundial. Mas implementou-o ainda de uma forma ainda mais rara, pois o NME mantem disciplinas semestrais misturadas com disciplinas periódicas.

2) A avaliação nos modelos de ensino universitário.

A diferença entre os principais dois principais modelos internacionais, dos dois semestres e dos três trimestres, reside nas avaliações principais que são respetivamente no fim dos semestres e no fim dos trimestres. Assim nos trimestres a quantidade de matéria que é avaliada de cada vez é 2/3 menor do que nos semestres. O grosso da avaliação não é contínua, sendo a avaliação por exames.


Notamos algumas afinações que variam de país para país. No UK, os alunos devem discutir semanalmente com os professores, devendo apresentar séries de problemas resolvidas. Mas no entanto a avaliação principal é no fim do trimestre.


Um caso interessante é o das “Classes Préparatoires aux Grandes ècoles” [7], de elite, em França. O ensino é 100% contínuo, com trabalhos exigentes apresentado semanalmente em todas as disciplinas.


Na Alemanha são frequentes as avaliações orais [8], uma forma de avaliação muito interativa entre o professor e o aluno.


A regra geral é termos avaliações nas mesmas datas, sincronizadas, em todas as disciplinas que são lecionadas em paralelo, sejam exames finais, sejam trabalhos a realizar em todos os fins de semana.

Mas a avaliação adotada no NME é contrária à regra geral. Pretende ser contínua mas na verdade é discreta pois está dividida em MAPPs. Os MAPPs são alternados entre diferentes disciplinas. Na prática as avaliações são dessincronizadas entre as disciplinas, o que cria uma competição desequilibrada entre as disciplinas.

3) O “majors” e “minors”.

Em grande parte dos sistemas de ensino universitário, os alunos podem optar, para além da especialidade “major” dos eu curso, em também receber disciplinas de um segundo assunto “minor”, para enriquecer o seu CV ou por interesse pessoal.

Esta opção é um dos cavalos de batalha do NME, e uma das justificações para dividir os semestres em períodos.


No entanto, todos os sistemas – sejam por semestres, por trimestres ou pelos semi-semestres do NME – funcionam na prática com “majors” e “minors”. Os minors não justificam os semi-semestres.

Infelizmente, com o NME falta-nos o principal ingrediente para este sistema ter sucesso: falta que uma universidade inteira siga o mesmo sistema. Em todas as instituições com majors e minors (inclusive nas que inspiram o NME [6]), é a universidade toda que partilha majors e minors. Ora, o IST pertence à Universidade de Lisboa (UL), a maior universidade de Portugal, da qual o IST poderia beneficiar para os seus minors, pré majors, opções livres e disciplinas de Humanidades, Artes e Ciências Sociais. A UL até tem um curso de “Estudos Gerais” onde os alunos frequentam disciplinas de várias faculdades diferentes. O IST poderia usar todas as disciplinas da UL para compor um vasto leque de minors. No entanto, por “orgulhosamente só” ter adotado um sistema único de semi-semestres, o IST dificulta que os alunos beneficiem do seu ambiente universitário.

Em conclusão, por adotar uma divisão do ano letivo muito rara a nível mundial e nunca testada em Portugal, por ter avaliações dessincronizadas entre as disciplinas, por adotar “minors” em períodos numa universidade com semestres, o IST perde esta oportunidade de se modernizar com sucesso. O esforço e o stress exigidos aos professores para implementar o NME são em vão, pois há uma perceção que o ensino no IST está a perder qualidade, tal como mostram as quebras nas colocações dos alunos nos cursos do IST [9].

Webgrafia:

[1] https://tecnico.ulisboa.pt/pt/ensino/cursos/modelo-de-ensino/

[2] http://forum24.tecnico.ulisboa.pt/o-mepp-percist-com-o-regulamento-de-avaliacao/

[3] https://www.bestcolleges.com/blog/semester-vs-quarter-system/

[4] https://www.postgrad.com/study-in-uk/uk-postgraduate-study/university-holidays/

[5] https://www.iamexpat.nl/education/studying-netherlands

[6] https://nus.edu.sg/registrar/calendar

[7] https://www.letudiant.fr/etudes/classes-prepa/classement-le-palmares-des-prepas-de-l-etudiant-11637.html

[8] https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/09695940120033234

[9] http://forum24.tecnico.ulisboa.pt/admissoesist/

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